domingo, 22 de abril de 2007

Meu zine vomitado.

Eu sempre fui fissurado por quadrinhos. Me lembro que desde a mais tenra idade adorava todo tipo de gibis: disney, maurício de souza, stan lee (super heróis). Até hoje, de vez em quando, dou uma olhadinha nos homens-aranhas da vida. Mas um divisor de águas naqueles saudosos anos finais da década de 70 foi quando uma revista MAD veio parar na minha mão. Uma vizinha tava botando umas revistas fora e eu peguei a revista da pilha. Era uma edição que continha uma sátira ao filme Contatos Imediatos de Segundo Grau. Bah! Faz tempo! E tinha outras sátiras a comerciais de TV e outras coisas. Me viciei. E apurei a acidez do meu humor.
O mundo dos quadrinhos me deu, então, esse mérito (ou demérito na ótica da minha esposa): fez o mundo real e o irreal se misturarem um pouco na minha cabeça. Os limites do possível passaram a ficar muito tênues pra mim. Não que virasse um doido varrido...mas passei a achar tudo possível: viajens no tempo, vida em outros planetas, fantasmas, deuses astronautas, fim do capitalismo. E essas viagens todas só se fizeram piorar com meus 6 anos de assinatura da revista PLANETA, e meus 7 anos na faculdade de História na USP (fora mais alguns cursos em Sociologia, Antropologia). É claro que um cara assim teria mesmo que ir parar no Heavy Metal. Mas isso é uma outra história.
Os anos 80 eram muito carentes de informação sobre música. Tanto é que, na esteira da cultura punk (faça você mesmo), ficou muito popular um veículo de comunicação chamado Fanzine (zine para os íntimos). Basicamente era a troca de informações sobre bandas de rock, além de algum esboço de teoria ideológica possível em papel xerocado. Eram vendidos nas lojas de discos e outros inferninhos do underground.
Juntando sátira, crítica, rock e o resto do mundo underground, surgiram as revistas tipo Chiclete com Banana, Piratas do Tiête, Animal, etc. Vocês não imaginam a frustração que era pra mim, nesta época, não saber tocar um instrumento ou desenhar. Até tentei algumas investidas: fui o primeiro vocalista da primeira das inúmeras bandas do Laudinho. Mas minha timidez e senso crítico não me permitiram ficar na banda por mais de dois meses. Outra investida, menos infrutífera foram as revistinhas que eu comecei a fazer. Nelas eu consegui alguma satisfação, semelhante a que devem sentir os músicos que compoem.
Se os zines eram undergrounds por circularem em papel xerocado e terem o layout rebuscado, os meus zines eram hiper-ultra-mega undergrounds (se bem que, em se tratando de underground eu deveria dizer sub underground). Eram feitos com caneta bic, desenhos mal-feitos, e nem xerocados eram. Como fazia uma peça única, eu circulava de mão em mão. E adorava ficar ao lado pra ouvir as gargalhadas e comentários.
O primeiro que fiz foi vomitado(!) Eu tinha chegado em casa lá pelas 4 ou cinco da manhã. Estava ainda sob os efeitos da noite etílica em algum inferninho da cidade. Nunca fui de beber muito. Mas era de passar muito mal com o pouco que bebia. Uma vez cheguei a comentar com o Piru que sentia que havia sobre mim uma espécie de maldição (ou benção, dirão alguns): eu estaria condenado a ditadura da sobriedade. Se por um lado tinha a capacidade de viajar na maionese caretinha da silva, por outro, quase nunca conseguia curtir os efeitos do álcool . A bebida em qualquer quantidade só me deixava meia hora tonto, e doze horas de estômago virado. Só preju! Mas voltando ao zine...
Como não conseguia dormir naquela noite, liguei a TV na Gazeta (rolava uns clipes na madrugada), peguei caneta e papel e me deitei no chão da sala. A revistinha praticamente saiu numa canetada só, quase uma psicografia (diria Chico Xavier se estivesse vivo...se bem que mesmo morto ele poderia dizer isso pela boca ou caneta de alguém....viajei!). Dia seguinte, domingo, duas e meia da tarde, depois da macarronada e fórmula um, lá estava eu na rua, circulando a revistinha. Sucesso total. Se bem que sucesso é uma palavrinha que não se pode usar no mundo underground: como diria Paulo Ricardo, que ainda está vivo – “ no underground repousa o repúdio, que deve despertar uouuuuu!!!” Baita cuzão esse Paulo Ricardo.



P.S. (tão logo eu terminei estas últimas linhas, minha esposa gritou lá da área de serviço que mais uma vez eu esquecera moedas no bolso de alguma calça...a máquina de lavar estava a ponto de explodir!... e minha cabeça sempre na Lua...tsc...tsc...tsc....tudo culpa do homem-aranha!)

Um comentário:

Anônimo disse...

Quer dizer que aquela coisa que você trouxe para nos mostrar já não era sua estréia como zineiro? Então nós estragamos o seu barato consertando a diagramação udigrudi do seu zine?

Pensando bem esse seu método de fazer um zine só e ficar do lado vendo a reação do leitor é muito mais interessante (além de ser mais barata, é claro)

Afi, quanta saudade da época do Annales. O Angelo não podia virar blogueiro também, hein?

Cris Romano
PS: tá anônimo porque senão tem que logar e tudo...