sexta-feira, 27 de abril de 2007

As paixões da oitava série.

Os anos no primário terminavam, e eu não perdia as esperanças de que na lista de material do ano seguinte, fossem incluídos alguns dos sonhos de consumo de nossa infância escolar. Com as canetinhas Silvapen eu já não sonhava mais. Só eram desejadas até a quarta série...depois disso perdiam a graça, pelo menos pra nós, moleques. De giz de cera eu nunca gostei... aquele traço grosso deixava meus desenhos ainda mais feios. O apontador de ferro era eterno, não quebrava nunca, ou pelo menos durava até a oitava série... mas nem com esses argumentos eu conseguia convencer a mãe a comprar... tinha que me contentar com o verdinho redondo. Uma vez, acidentalmente, o verdinho caiu da mesinha e foi rolando até perto da mesa da professora, durante um ditado: perdi cinco palavras só para ir busca-lo. As réguas geométricas eram outro item de adoração. Nas aulas de educação artística eram essenciais para desenhar bichos, e nas de geografia serviam pra gente contornar o (antes indesenhável) mapa do Brasil.
Eu adorava também o dia em que chegavam os livros didáticos. Era maravilhoso ver a professora chegando com aquelas caixas abarrotadas. A primeira coisa que eu fazia quando recebia os meus era cheira-los. Adorava (e ainda adoro) o cheiro de livro novo. Um dia desses, estava numa grande livraria de shopping, aproveitei que não havia ninguém por perto e dei uma bela cheirada num Fritjof Capra. O chato dos livros didáticos é que conforme se seguiam as séries, menos figuras eles possuíam. Os de Matemática já eram chatos desde a quinta: só figuras de conjuntos, triângulos, cubos e retas. Eu odiava as retas. Os de História iam ficando mais grossos, letras menores, e as figuras iam perdendo a cor. Os de Geografia e Português começavam a se dividir em livros-textos e os odiávieis e intermináveis cadernos de exercícios (geralmente feitos de papel amarelado com um cheiro ruim).
O maior sonho de toda a nossa infância escolar era a caixa de lápis de cor Faber Castell de trinta e seis cores. Conhecia-se o padrão de vida de um coleguinha pelo tamanho da caixa de lápis de cor que os pais lhe comprava. As de seis cores eram comuns nas séries iniciais. As de doze já causavam alguma inveja a partir da quarta série. A partir da quinta até a sétima já surgiam alguns afortunados com os maravilhosos estojos com vinte e quatro cores. Finalmente, na oitava série se escancarava de vez a luta de classes: uma minoria privilegiada com trinta e seis, a grande maioria com o estojo de vinte e quatro, e eu, com meu valente estojinho semi-novo de onze cores (eu havia perdido o azul celeste), que com alguma economia, sobrevivera à sétima série. O lápis vermelho era o mais gasto, estava pela metade. Os outros ainda possuíam dois terços do tamanho original. E o branco... intacto. Aliás, desde que a primeira caixinha veio parar em minhas mãos, eu me perguntava: Por que o senhor Faber Castell (eu o imaginava como um velhinho barrigudo, bonachão, de terno e colete, óculos redondinhos, bigode farto e branco, cartola e bengala), insistia em colocar nas caixinhas, o inexpressivo (e até então inútil) lápis branco. Nunca se usava.
Mas o lápis branco e o azul celeste (que perdi) tiveram um papel importantíssimo na minha oitava série. Os céus do meu caderno de desenho nunca ficaram desamparados graças a Miriam de Fátima (36 cores), a colega da mesinha da frente que passou a me emprestar o lápis azul celeste e os sorrisos brancos. Miriam era um ano mais velha que eu, mais madura, alta, não muito magra, pele alvíssima e cabelos compridos levemente avermelhados. Não morava no bairro, pois pegava ônibus pra ir embora. Só não era a menina mais bonita da sala por causa do nariz grandinho... mas era a menina mais bonita dos meus olhos. Entre empréstimos de lápis e devoluções de borracha (embora ela possuísse uma, gostava de usar a minha), ficamos muito amigos. Vivia me roubando o caderno para copiar as repostas dos questionários de Geografia e História, devolvendo depois devidamente assinado com seu primeiro nome num dos cantos das folhas. Depois de um tempo comecei a ter a impressão de que o “M” da assinatura dela passara a ser traçado com as perninhas mais fechadas, formando um coraçãozinho... Bendito lápis azul-celeste!
No mês de julho daquele ano aconteceu algo estranho. Pela primeira vez me sentia desconfortável com as férias... Futebol de rua, pega-pega, peão, empinar papagaio... nenhum folguedo parecia dar-me a satisfação de antes. Foi então que numa noite, ouvindo o rádio do pai, eu senti um aperto no coração, uma dorzinha, um desconforto melancólico. Tocava a música Flor do Campo na voz do Fabio Junior... Não sabia nomear aquele sentimento... mas ele durou as férias inteiras... e se fazia piorar toda vez que eu ouvia a música.
Recomeçaram as aulas, os empréstimos e as assinaturas. Embora tivesse havido algum progresso na intimidade com a Miriam (já não era raro compartilharmos doces na hora do recreio), a preocupação com o final do ano passava a angustiar-me. Minha escola era apenas de primeiro grau. Iríamos para escolas diferentes. Talvez nunca voltássemos a nos falar, já que ela iria para um colégio em seu prórpio bairro. E eu temia perpetuar para o resto da minha vida aquela sensação desconfortável que surgira nas férias, ainda que conseguisse calar a boca do Fabio Junior. Numa atitude de desespero, passei a sentar junto com a turma do fundão... mas ela me arrastou com mesa, cadeira e tudo pra perto dela. Maldito lápis azul-celeste!
Chegou novembro e aquela sensação estranha não passava. E o maldito Fabio Junior continuava estourando nas paradas. Foi então que numa atitude impulsiva passei a desenhar um coração envolvendo cada assinatura que ela deixava em meu caderno. Ela continuava assinando. Mas a cada coração que fazia, me sentia melhor. Então resolvi ousar ainda mais: comecei a escrever “eu te amo” nos cantos das folhas onde ela ainda não havia assinado. E ela continuava a assinar. E eu ia me sentindo melhor a cada folha. Foi então que resolvi dar o golpe final no restinho de melancolia que ainda sentia, já na última semana de aula: Desenhei um grande coração na última folha do caderno, e dentro dele escrevi todos os meus sentimentos. Foi uma ação libertadora. Sentia-me leve, não carregaria mais o fardo dos sentimentos inconfessáveis. No último dia de aula Miriam me pediu o caderno e escreveu um pequeno versinho na última folha... e assinou. A oitava série terminou, e nós nunca mais voltamos a nos ver. Ainda guardo dela uma pequena, doce e eterna saudade. Foi uma verdadeira terapia eu ter aprendido a expressar meus sentimentos através da escrita. Bendito, bendito lápis branco!!

segunda-feira, 23 de abril de 2007

O universo num suspiro.


Quando eu era moleque adorava suspiro. Às vezes tenho a impressão de que deixei de ser criança no exato momento em que o doce perdeu a importância pra mim. Ah! Como era doce a infância!
Eu ficava cheio de esperanças quando o caminhão Ford verde escuro, com o logotipo da marca Neuza, parava na frente do boteco perto de casa. Sabia que as prateleiras estariam sendo abastecidas de novas guloseimas. Gibis de amendoim, doce de leite, cocadas, suspiros, maria-mole, pipocas de canjica (naquele inconfundível saco rosa), paçoquinha... todas as delícias do mundo que trinta centavos poderiam comprar.
Se eu quisesse um doce mais sofisticado, teria que me aventurar por dois quarteirões e meio, enfrentando cachorros de rua de humores instáveis e os temíveis moleques da rua de cima. A quitanda do Seu Joaquim ficava longe para minhas pernas de 8 anos. Mas valia a pena: chocolate em forma de peixe, garrafinhas de chocolate com licor, simulacro de sorvete feito com casquinha cônica comestível recheada de maria-mole com açúcar granulado e um brinquedinho espetado na ponta. Havia também doces mais caros, como os chocolates Prestígio e Choquito, os cigarrinhos de chocolate da Pan... mas eu raramente tinha dinheiro para comprá-los. E quando o fazia, ia lambendo e chupando o doce para ele não acabar rápido, afinal, custavam o equivalente a três doces normais. De qualquer forma já valia a “viagem” chegar perto daquele gabinete de madeira, sentir a mistura dos cheiros açucarados, descobrir novidades e desejos.
No meu bairro os ambulantes também faziam sucesso. Quando ouvíamos o som da buzina, interrompíamos o que quer que estivéssemos fazendo (futebol, jogo de taco, mãe-da-rua), aguardando estáticos o surgimento do ambulante quebrando a esquina. Algodão-doce, maçã-do- amor, quebra-queixo e os deliciosos sorvetes da Crenata. Eu adorava o sorvete Esquimo (recheio de nata com cobertura de uma fina casquinha de chocolate vagabundo). Surgiam os ambulantes, enfim, e aos sons das buzinadas se juntava o alvoroço da molecada, entrando em suas casas, extorquindo as mães através de súplicas ou birras. Pena que nem sempre suas aparições coincidiam com o dia do pagamento dos pais. Era frustrante vê-los surgir numa extremidade da rua, sentir as provocações das buzinadas, observando-os seguirem em seu passo demorado e exibicionista, até ganharem a outra esquina, desaparecendo como uma miragem... sem que nossos olhares mais suplicantes ou nossos choros mais convincentes arrancassem da mãe os vinténs que ela guardava pra coisas menos importantes (couve, salada, arroz, feijão).
Já nos tempos de escola descobrimos novos sabores: as paçoquinhas que vinham socadinhas em cones de papel, potinhos comestíveis de doce de banana (aquele com pazinha de madeira), sucos gelados ou congelados em saquinhos plásticos, os isopores maravilhosos e seus picolés sortidos de coco queimado, abacate, groselha... A rua do portão de entrada do Colégio de Primeiro Grau Dona Angelina Maffei Vita (não resisti a escrever o nome inteiro tal e qual aos milhares de cabeçalhos que nos obrigavam iniciar cada disciplina!) era um verdadeiro carnaval dos pecados. Eu era freguês de um sorveteiro que oferecia como diferencial a oportunidade de se ganhar outro picolé, se conseguíssemos retirar uma bolinha branca de dentro de um saco de pano cheio de bolas de gude. Até o fim da oitava série não conheci ninguém que tivesse conseguido!
Na fase Office-boy sobrava algum dinheiro para um sorvete da Kibon ou da Gelatto. Eu era daqueles que, findo o sorvete, ficava mastigando/chupando os palitos por horas. Uma vez, descobri tardiamente que havia mastigado um palito premiado... perdi um sorvete extra! Que droga! Só fui perder o hábito de mastigar palitos quando a Kibon lançou a promoção na qual você trocava uma certa quantidade de palitos marcados por figurinhas do álbum do filme Flash Gordon (a versão de 1980). Aproveitava minhas andanças de boy pra coletar palitos perdidos pelas ruas de São Paulo. Resisti bravamente para não mastigá-los. Por fim, preenchi totalmente o álbum... mas até hoje não assisti ao filme.
Ah!...Nossa doce infância!!! Se eu pudesse dar um conselho a meu querido leitor... pediria a ele que num dia ensolarado qualquer, adquirisse um doce, desses que um dia adocicaram a sua meninice (um suspiro, por exemplo), procurasse um banco de praça ou a sombra de uma árvore, e se dedicasse única e exclusivamente a comer esse suspiro. Apenas coma-o, pois é assim que as crianças fazem... No minuto em que durar a degustação, se esqueça do mundo, ignore o temor das calorias, esqueça o tempo do relógio. Apenas coma o suspiro. Não pense em nada. Se memórias lhe assaltarem a mente, deixe-as fluir, pois memórias são pensamentos já pensados. Apenas coma o suspiro. Use seu olfato para extrair-lhe o doce aroma... use os olhos apenas para descobrir nele os cantos mais saborosos. Apenas coma o suspiro. Não se importe com as migalhas que poderão lhe cair sobre a camisa nova. Apenas coma o suspiro... Aaah...! Quem sabe, num suspiro, você encontra uma criança perdida?!

domingo, 22 de abril de 2007

Os Trampos.


Na minha família, todos estudávamos sem precisar trabalhar até completar o primeiro grau. Foi quando saí do Maffei Vita para o Colombo em 82, que comecei a folhear o Estadão todos os domingos a procura de emprego. Naquela época o caderno de empregos do jornal era o dobro de toda a edição que atualmente sai aos domingos! A letra “A” de auxiliar era infinita. Mas eu ia direto pra letra ‘o” de office-boy. E não era muito fácil achar um anuncio que servisse. A maioria pedia pelo menos um ano de experiência. Bah! Como?! Se esse cargo era procurado justamente pelos que entravam no mundo do trabalho aos 14 anos?!! Dos quarenta (!) anúncios que costumavam sair, somente uns 5 não pediam ou não mencionavam experiência. Eu os recortava e saía toda segunda-feira de manhã pra “fazer ficha”, confiante, com meu diploma de datilografia da escola Itapemirim na pastinha. Não via a hora de ter o meu salário... quero dizer, metade do meu salário (a outra ficaria com a mãe).
Nesses saudosos anos a gente começava a projetar a vida profissional assim: começaria como office-boy (ou contínuo, mais chic), depois passaria para boy maior (aos 18), e finalmente, conseguiria a promoção para o cargo de auxiliar de escritório (o auge da carreira). Como auxiliar era possível alugar uma casa, constituir família, ter algum orgulho social. Se tivesse sorte, se especializava numa tarefa mais específica (auxiliar de cobrança, por exemplo).
Faculdade?! As privadas já eram caríssimas, as públicas já eram inacessíveis. O negócio era fazer um colegial técnico (opção em Humanas ou Exatas), ou prestar um vestibulinho pro Colégio Industrial, ou o Comercial. Se conseguisse um curso no Senai estava feito! Não lhe faltaria emprego e bom salário.
Sinônimo de êxito na vida profissional era ser bancário. Do Bradesco então, mais chic ainda, com aquela gravatinha de crochê. Diziam na época que no Bradescão não se podia ficar mais de dois anos sem promoção. Corria-se o risco de ser dispensado. Pra quem olhava de fora, ou da fila do caixa no meu caso (boy), isso soava deveras estimulante. Mas lá dentro a pressão era grande...e poucos sabiam que o sistema não era uma pirâmide, e sim um vulcão (queriam que você subisse rápido pra dar lugar e estimular os que vinham debaixo, criando a ilusão de uma rápida ascensão). Mas a carreira era limitada...havia um final na carreira...a partir dali você era queimado, expelido para dar continuidade a roda da fortuna (dos banqueiros).
Nos anos 80 ficou muito famosa a tese, que tinha como seu principal defensor, Ricardo Semler (autor de “Virando a própria mesa.”), de abrir seu próprio negócio. Ser o seu próprio patrão. A diferença em relação aos dias atuais é que naqueles anos, ter o próprio negócio era sinônimo de fazer dinheiro, ficar rico. Hoje é apenas uma alternativa de sobrevivência a quem já se desencanou de arrumar emprego de carteira assinada.
Havia os que profetizavam que o futuro estava na computação. O auxiliar de escritório tinha que se atualizar, aprender Wordstar, Lotus, Dbase...ou se tornar um programador de Cobol, Assembler, Pascal. Eu tentei dar uma investida fazendo um curso para programação de Basic (não serviu pra nada). Tentei então o genérico Operador de computador (uma espécie de peão do programador). Nada. Daí tentei um curso de Digitador (o cargo mais peão da informática): comecei a trabalhar de manhã no Banco Real e a noite fazia bico de digitador (ninguém registrava digitador por causa da tendinite). Daí seguiram-se muitos anos de minha vida em dois turnos de trabalho...sempre temendo a tendinite. Acabei pegando mesmo foi uma sinusite por causa do ar condicionado dos CPDs (centro de processamento de dados). A vida de digitador era boa. Pegávamos o serviço a ser digitado nas prateleiras, digitávamos ouvindo música no walkman, parávamos 10 a cada 50 minutos de trabalho, e colocávamos o serviço digitado em outra prateleira para ser conferido por outros digitadores. Mas..., algum idiota inventou o código de barras. Adeus digitadores...assim como os motoboys substituíram aos office-boys, os computadores aos bancários, os anos 90 aos 80, o bico ao trabalho de carteira assinada.
Mas ainda na fase bancária tive bons momentos trabalhando de manhã no Banco Real e a noite no Unibanco. Dois registros na carteira, dois salários, dois talões de vale-refeição, dois planos de assistências médicas, dois chefes (nada é perfeito). Guardei muito dinheiro, gastei outro tanto, cultivei olheiras, fiz muitos amigos e greves. Essa fase terminou quando eu tive que sair de um dos bancos pra cursar a faculdade de História....e depois, quando saí do outro para assumir como funcionário público. Daqui já não há mais para onde correr. Chega de correr...
A melhor fase?! Foi a de boy, sem dúvida: conhecia toda a cidade, tomava chuva, corria de trombadinha na zona leste, encontrava os amigos na fila do banco, economizava o dinheiro da passagem andando a pé, almoçava cachorro quente na Paulista, via o mundo passando apressado através da janela do busão, e cochilava na longa volta para o bairro da Casa Verde, sonhando um dia me tornar um auxiliar de escritório.

Geral no saco.


Você sabe o que significa “gambé”? E “tomar uma geral”? Esses termos eram bem conhecidos na periferia de São Paulo, principalmente entre a molecada. Gambé é uma gíria para policial e “geral” era o termo para revista policial. Vivíamos o final da época dos governos militares, e os policiais tinham liberdade para revistar quem quisessem. Eles adoravam dar geral em preto e nos de preto: nos negrinhos e nos roqueiros (camisetas pretas). Pior pra mim que era um preto de preto. Lembro-me que quando menor, costumava ouvir e acatar os conselhos dos garotos maiores e mais experientes:
- Mano! Quando os gambé vier te dar geral abre bem as perna, senão os cara vão te dar um puta chute nas canelas pra você abrir. – dizia o Cidão.
Nunca esqueci o conselho...e o apliquei em todas as minhas gerais. Minha primeira foi no Horto Florestal (um grande parque da zona norte). Estávamos lá eu, Zoli, Laudinho, Cuga e Piru, fazendo uma espécie de piquinique (coca-cola e pão com mortadela), devidamente trajados de roqueiros: broches, calças rasgadas, camisas pretas e cabelos compridos. Na verdade eu não deixava meu cabelo (aí que saudade dele!) muito grande, pois ele crescia pra cima, fazendo-me parecer com o Michael Jackson na fase negra. Para evitar isso, vivia puxando meus cabelinhos da nuca para baixo, criando um pigmaleão ilegítimo. Não adiantava muito. No máximo ficava parecido com o Michael Jackson na fase vitiligo. Mas voltando a geral...
Lá estávamos nós sentados à sombra de uma árvore, saboreando os deliciosos sanduiches de mortadela sabor “digitais de balconista de padoca” (a higiêne dos padeiros da época era froids!). Eis que um camburão se aproxima, e dele saem quatro gambés com as mãos pousadas nas armas, gritando “mão na cabeça!”. Ficamos todos com “o cu na mão” e atendemos prontamente os PMs. Piru, que até então não ostentava o título de “o mais cagão”, estava pálido como a gordura na rodela de mortadela. A geral se procedeu com a revista, cheirada das mãos (sempre faziam isso em roqueiros pra tentar sentir vestígios do cheiro de maconha) e terminando com um mini-interrogatório.
- Ah! Vocês são roqueiros...sorte de vocês. A gente não gosta é de punk. – amendrontava um policial.
- Não, não...imagina! Ninguém aqui é punk, não. – se apressava em responder Piru, com um olho fechado e dois bem arregalados.
- Não quero ver ninguém aqui consumindo drogas, heim?!- disse o último policial a entrar no camburão.
- Não, não...que isso! Brigadu, viu?! E desculpe alguma coisa. – respondeu o pobre Piru.
Pobre Piru! Não pelo medo que havia passado, mas pela infeliz resposta, que jamais fora esquecida pelo resto da turma. Depois disso o moleque foi condecorado com o temido título de “cu”. Anos mais tarde, devido a outros fatos, ele foi promovido ao de “cuzão”. E por muito pouco ele conseguiu aposentar sua carreira de moleque sem receber a última graduação do título: “mó cuzão”.
Essa foi apenas a primeira de muitas gerais que tomamos ao longo de nossa vida roqueira. E a melhor de todas foi a da Avenida Marquês de São Vicente. Nós estávamos caminhando pela larga avenida, margeada pelo grande e comprido muro que isolava os terrenos baldios da Marginal, quando um camburão passou vagarozamente na pista contrária com seus quatro ocupantes nos encarando. Nesse momento ficou certo pra nós que fatalmente tomaríamos uma geral. O camburão iria até o começo da avenida, cerca de 500 metros daquele ponto, contornaria a rotatória, e viria ao nosso encalço. Foi aí que todos nos surpreendemos com o Zoli enfiando as duas mãos dentro das calças:
- Que é isso, mano? - perguntou Laudinho.
- Querem dar geral na gente?! Tudo bem....mas esses filhos da puta vão ter que cheirar o meu saco! – respondeu em tom de indignação, enquando esfregava as duas mãos na bolsa escrotal.
Foram anos tomando geral de gambés nem sempre tão delicados...e agora Zoli queria fazê-los pagar, cheirando seu saco por tabela. Aprovamos a idéia e passamos a fazer o mesmo (cada um em seu saco, claro!). Esfregávamos e ríamos.
- O guarda que me pegar tá fudido...Joguei bola o dia inteiro, e ainda não tomei banho. Sente só o cheiro, La? – disse Piru oferecendo as mãos para o Laudinho cheirar.
- Saí pra lá, seu porco!- respondeu, recusando a oferta.
- Puxa! Pena que eu tomei banho! – lamentei eu.
- Enfia no cu, então. – sugeriu com sarcasmo Cuga.
- Não tenho coragem. – respondi gargalhando.
- Minha mão esquerda tá limpa...ainda nem esfreguei no saco....se quiser eu te empresto pra você passar no cu, Beto. – sacaneou Laudinho.
- Sem chances!- respondi fazendo coro nas gargalhadas.
Minutos depois lá estávamos nós, os cinco garotos, tomando mais uma geral, se esforçando ao máximo para escondermos o cínico sorriso da vitória, enquanto nossas mãos eram cheiradas.

Meu zine vomitado.

Eu sempre fui fissurado por quadrinhos. Me lembro que desde a mais tenra idade adorava todo tipo de gibis: disney, maurício de souza, stan lee (super heróis). Até hoje, de vez em quando, dou uma olhadinha nos homens-aranhas da vida. Mas um divisor de águas naqueles saudosos anos finais da década de 70 foi quando uma revista MAD veio parar na minha mão. Uma vizinha tava botando umas revistas fora e eu peguei a revista da pilha. Era uma edição que continha uma sátira ao filme Contatos Imediatos de Segundo Grau. Bah! Faz tempo! E tinha outras sátiras a comerciais de TV e outras coisas. Me viciei. E apurei a acidez do meu humor.
O mundo dos quadrinhos me deu, então, esse mérito (ou demérito na ótica da minha esposa): fez o mundo real e o irreal se misturarem um pouco na minha cabeça. Os limites do possível passaram a ficar muito tênues pra mim. Não que virasse um doido varrido...mas passei a achar tudo possível: viajens no tempo, vida em outros planetas, fantasmas, deuses astronautas, fim do capitalismo. E essas viagens todas só se fizeram piorar com meus 6 anos de assinatura da revista PLANETA, e meus 7 anos na faculdade de História na USP (fora mais alguns cursos em Sociologia, Antropologia). É claro que um cara assim teria mesmo que ir parar no Heavy Metal. Mas isso é uma outra história.
Os anos 80 eram muito carentes de informação sobre música. Tanto é que, na esteira da cultura punk (faça você mesmo), ficou muito popular um veículo de comunicação chamado Fanzine (zine para os íntimos). Basicamente era a troca de informações sobre bandas de rock, além de algum esboço de teoria ideológica possível em papel xerocado. Eram vendidos nas lojas de discos e outros inferninhos do underground.
Juntando sátira, crítica, rock e o resto do mundo underground, surgiram as revistas tipo Chiclete com Banana, Piratas do Tiête, Animal, etc. Vocês não imaginam a frustração que era pra mim, nesta época, não saber tocar um instrumento ou desenhar. Até tentei algumas investidas: fui o primeiro vocalista da primeira das inúmeras bandas do Laudinho. Mas minha timidez e senso crítico não me permitiram ficar na banda por mais de dois meses. Outra investida, menos infrutífera foram as revistinhas que eu comecei a fazer. Nelas eu consegui alguma satisfação, semelhante a que devem sentir os músicos que compoem.
Se os zines eram undergrounds por circularem em papel xerocado e terem o layout rebuscado, os meus zines eram hiper-ultra-mega undergrounds (se bem que, em se tratando de underground eu deveria dizer sub underground). Eram feitos com caneta bic, desenhos mal-feitos, e nem xerocados eram. Como fazia uma peça única, eu circulava de mão em mão. E adorava ficar ao lado pra ouvir as gargalhadas e comentários.
O primeiro que fiz foi vomitado(!) Eu tinha chegado em casa lá pelas 4 ou cinco da manhã. Estava ainda sob os efeitos da noite etílica em algum inferninho da cidade. Nunca fui de beber muito. Mas era de passar muito mal com o pouco que bebia. Uma vez cheguei a comentar com o Piru que sentia que havia sobre mim uma espécie de maldição (ou benção, dirão alguns): eu estaria condenado a ditadura da sobriedade. Se por um lado tinha a capacidade de viajar na maionese caretinha da silva, por outro, quase nunca conseguia curtir os efeitos do álcool . A bebida em qualquer quantidade só me deixava meia hora tonto, e doze horas de estômago virado. Só preju! Mas voltando ao zine...
Como não conseguia dormir naquela noite, liguei a TV na Gazeta (rolava uns clipes na madrugada), peguei caneta e papel e me deitei no chão da sala. A revistinha praticamente saiu numa canetada só, quase uma psicografia (diria Chico Xavier se estivesse vivo...se bem que mesmo morto ele poderia dizer isso pela boca ou caneta de alguém....viajei!). Dia seguinte, domingo, duas e meia da tarde, depois da macarronada e fórmula um, lá estava eu na rua, circulando a revistinha. Sucesso total. Se bem que sucesso é uma palavrinha que não se pode usar no mundo underground: como diria Paulo Ricardo, que ainda está vivo – “ no underground repousa o repúdio, que deve despertar uouuuuu!!!” Baita cuzão esse Paulo Ricardo.



P.S. (tão logo eu terminei estas últimas linhas, minha esposa gritou lá da área de serviço que mais uma vez eu esquecera moedas no bolso de alguma calça...a máquina de lavar estava a ponto de explodir!... e minha cabeça sempre na Lua...tsc...tsc...tsc....tudo culpa do homem-aranha!)

As solas e as histórias.

“O brasileiro quando sai de conga fica confortável,
Conga é mais macio, conga é mais durável...”

Será que alguém ainda se lembra dessa propaganda? Era um moleque usando um conga azul marinho, fazendo embaixadinhas com uma tampinha de garrafa, sob o fundo musical do Brasileirinho, com a letra acima adaptada. Você nem sabe o que é um conga?! Devo estar ficando velho mesmo!
Nossos calçados têm uma importância fundamental na reconstituição de nossa memória. Tudo começou com os chinelinhos havaianas. Era o principal calçado que minha mãe comprava pra gente (seis filhos!!). E comprava um ou dois números a maior, pois pé de criança cresce mais que os salários. E olha que naquela época havaianas era coisa brega! Mas os cachorros adoravam. O cachorro do vizinho, Shake (era mestiço de pequenez com vira-lata) almoçou uma vez meu 31-32 azul piscina. E como ardiam nas nádegas! Pior mesmo era apanhar de chinelos velhos (aqueles em que se espetavam grampos de cabelo pra evitar que as tiras escapassem). Eu morria de medo de um par calibre 39-40 que meu pai usava.
Usei muito conga para ir à escola. O azul para as aulas e o branco pra educação física (escapei do vermelhinho, pois não fiz o pré-primário). Mas depois de alguns anos fui ficando com aquela bobeira, característica da idade, de impressionar os amigos: pedi pra mãe me comprar um kichute. Já era um pré-adolescente, merecia um kichute! Era muito legal. A turma costumava passar graxa pra garantir o pretinho brilhoso. O problema era o chulé (o único tênis que não dava chulé era o Montreal anti-microbiel!). Mitsu, meu amigo japonês, tinha mais grana. Ele usava bamba monobloco (que tinha esse nome pois a sola era feita numa única peça de borracha). Nessa época pintou meu primeiro sonho de consumo: um tênis da marca Íris, que tinha a representação do pé desenhada por cima. Ainda bem que a mãe não me comprou(!)
Já na adolescência, o campeão dos sonhos de toda a gurizada era o all star. Importado, contrabandeado, e caro. E por isso, o pessoal usava até gastar...e era chique. Nunca vou me esquecer da imagem do Gagá, num sábado à tarde, de banho tomado, calça us-top branca, camisa novinha....e um all star velho (uns dois números a maior) todo estourado no pé. Tava prontinho pra ir a um aniversário. Não mencionei a cor do tênis pois ele já havia perdido! Mas feliz era ele...pois eu tinha que me contentar com o bamba basquete (também conhecido como bamba cabeção, por causa da biqueira laaarga) com o desenho do super-homem no calcanhar.
O all star acabou perdendo um pouco a estrela quando surgiram os sacoleiros do Paraguai. Eles vendiam de tudo: walkmans vermelhos, calças fiorucci, relógios g-shock com 36 musiquinhas. Quase tudo falsificado. As exceções eram os tênis que ficaram conhecidos genericamente por chinesinhos. Meu sonho de consumo passou a ser o tênis chinês fire white (com sola azul e estrelinha de mesma cor plastificada). Nessa época eu já não pedia pra mãe comprar, pois já era um office-boy e tinha meu dinheirinho. Mas não comprei. Preferia me juntar aos amigos Laudinho, Piru e mais alguns, para irmos até o Eldorado na rua Pamplona, comprar o recém-lançado Rainha basquete. Era o que havia de mais parecido com o all star. Mas isto foi antes do Piru começar a dar calotes na loja de calçados na rua Doutor César Castiglioni, ao lado do Bradesco. Ele comprava os tênis parcelados em 5 vezes, pagava a primeira e tchau e bênçãos. Nesse tempo, as financeiras mandavam correspondência também para os que eram arrolados como referência na ficha cadastral da loja. Eu era a referência preferencial do Piru. Tinha coleção de cartinhas de cobrança. Mas depois de um tempo, quando o tênis começava a furar, ele entrava em acordo com a financeira, parcelava o débito com um descontão nos juros....e comprava outro tênis. Se não me engano, anos depois, ele trabalhou nessa mesma loja.
Pois é! Quanto chão cabe embaixo de um sapato! Eu consigo citar um monte de gente da minha meninice e associá-los aos pisantes:

LAUDINHO: tinha um le coq sportif de couro, cano alto, cuja sola não gastava nunca, e como o pé dele não crescia (já nascera com pés de adulto) acabou dando o tênis pra alguém.

SERGIO (Canavial): tinha um tênis de cooper de uma marca canadense chamada Power. Era azul e vermelho. Não tirava do pé. Até que suas unhas grossas e incortáveis rasgaram o bico do tênis.

BICELLI: samello estilo marinheiro, aquele azul marinho com solado branco e cadarços de couro que transpassavam também pelas laterais.

CUGA: um all star todo em lona camuflada...ele adorava usar calça pula-brejo só pra deixar o tênis mais a mostra.

ZICO: os tênis e sapatos que o próprio pai fabricava (afinal ele era conhecido como filho do sapateiro)

MITSU: além do bamba, rainha tênis (aquele com camurça cinza na ponta), rainha futebol de salão, topper basquete (o antigo que tinha o bico arrebitado, parecendo uma canoa, e o desenho de uma bola de basquete desenhada no calcanhar).

GAGÁ: o all star de cor indefinida, em estado de desintegração

OSMAR (Botcha): rainha monte carlo, rainha iate branco (que ele mesmo deixava todo quadriculado, pintando com caneta bic...ele usava o tênis até que seu dedo mindinho do pé esquerdo, teimoso, furasse a lona), canon (aqueles de camurça com solado de crepe)

LIKA (Alessandra): Comander verde, comander marron, comander, comander...

ZOLY: adidas universal basquete (couro branco com listas pretas). Na verdade o tênis era meu. Um clássico da indumentária roqueira, cujo modelo já estava fora de linha. O único que achei era número 42, eu calçava 40. Daí quis vendê-lo para o Zoly. Mas o cara não maculava seu visual roqueiro com roupas novas: “Novo assim eu não uso! Vai usando o tênis alguns meses, jogue bola com ele...quando ele ficar bem zoado eu compro.” Pior que eu não conseguia usar muito pois tinha vergonha do tamanho da lancha. Finalmente resolvemos o negócio: levei o tênis para a rua e começamos a massacrá-lo: pauladas, chutes, arremessos contra a parede. Meia hora depois, o zoly me comprou o tênis. Detalhe: ele calçava 38!!

KIOSHI: adidas de lona branca com solado de poliuretano (amarelava mas não gastava nunca), chinelos com sola feita de borracha de pneu de avião.

PIRU: lembro bastante do Piru ainda moleque. Usava um shortinho verde com listas brancas nas laterais, e sempre descalço. Já na fase roqueira, ele tinha um topper de couro todo branco, cano alto, com um emblema da marca (a letra ‘t’) acima dos calcanhares. Era um clássico também.

A grande conclusão é que nossos calçados nos levam longe. Haja sola pra gastar pelos caminhos que temos pela frente! Haja sola pra nos levar de volta pelos caminhos do passado!

Os rádios, as rádios.

Rock and roll tudo bem...mas a verdade é que eu sempre gostei de música e das coisas que a envolvem: revistas, rádios (estações), rádios (aparelhos). Lembro-me bem de quando morava na Rua Luiz de Vasconcelos, número 37-fundos, aliás, minha primeira casa, onde morei até meus vinte anos,...Meu pai tinha um rádio daqueles antigos, valvulados, caixa de madeira, ondas médias, curtas. O bicho ficava numa prateleira à altura do batente da porta da cozinha pro quarto. Era muito alto, ainda mais olhando dos meus 5 anos de idade e pouco mais de um metro de altura. Só depois entendi que meu pai tentava preservar o aparelho de nossas cabeças curiosas, e ao mesmo tempo tentava preservar nossas cabeças curiosas do aparelho (o trem era pesado). Mas foi através dele que ouvi muito Zé Bétio, Silvio Santos, Barros de Alencar (as sete campeãs), Gil Gomes. Ouvia tudo compulsiva e compulsoriamente.
As coisas melhoraram um pouco quando o pai ganhou de aniversário um rádio à pilha. A mãe, que havia juntado uns trocos durante o ano todo, comprou o rádio e pediu pra nós entregarmos o presente. Ficamos tão felizes quanto ele, pois sabíamos que a democracia haveria de ser implantada finalmente nas ondas do AM. Foi aí que finalmente eu pude acompanhar as novidades do mundo pop/funk através das rádios Difusora e Excelsior (á máquina do som!). Essas duas estações tinham uma programação muito semelhante às rádios FMs. Nesse perído eu conheci Kool and the Gang, Brass Construction, Jimmy Bo Hoorn, e outras pérolas do pop/funk/disco. Mas ainda assim era apenas AM.
A frequencia modulada só chegou em casa quando eu recebi meu primeiro salário de office-boy. Comprei um motorádio am/fm a pilha. Chegava em casa do trabalho e já ia direto pro radinho ouvir a Antena 1, Cidade FM, Jovem pan II. Nessa época eu aproveitava pra ouvir os sons com mais fidelidade no três-em-um Sanyo do Mitsu, pois o Sergio Canavial, que morava na minha rua, mesmo tendo um bom aparelho de som, só ouvia a rádio América (rádio AM bem popular).
Eu já havia sido recrutado pelo Rock quando consegui botar um som mais potente em casa: era um toca-fita de carro TKR, adaptado num rack com fonte transformadora e alto falantes Bravox. Eu comprava os LPs e pedia pro Sergio gravar em fitas cassetes. Ao lado do rack eu deixava o disco do Kiss (The Creatures of Night), com aquela capa com as figuras demoníacas me encarando, e me lembrando o tempo todo...que eu havia sido recrutado.
Cuga e Laudinho, outros recrutas, graças aos seus salários de contínuos, puderam comprar no Mappin da Praça Ramos, um aparelho tres-em-um da National, 80 watts rms...era pouco, mas mesmo assim fizemos nosso primeiro baile roqueiro na garagem do cuga com ele.
Zoly era um cara de sorte. Tinha um Gradiente modulado (tape-deck, reciver e toca-discos separados) com 120 watts de potencia. Melhor que o dele somente o do irmão do Bicelly: Sintonizador, mixer, amplificador, tape-deck, toca-discos...tudo separadinho e trossentos watts de potência).
Depois do meu TKR, eu tive um dois-em-um (reciver e toca-discos) de 100 watts...juntamente com um tape-deck de segunda-mão que comprei na rua Santa Efigênia. Eles ficavam num rack de madeira que eu havia pedido pro Bikoka fazer. Nessa época eu já morava na Rua Vichy, 212.
Pouco tempo depois chegávamos a era dos Microsystems. Eu tinha um Gradiente com controles deslizantes. Mas meu sonho mesmo era o da AIKO. Walkmans eu tive aos montes...principalmente aqueles coloridos que a mãe do Faraó (Rogério, primo da Marina) trazia do Paraguai. Usei muito walkman quando fazia bicos de digitador, trabalhando a noite. Agora a moda é o mp3...eu mesmo tenho um, que encho de músicas da década de oitenta. E também tem as rádios temáticas de internet: pop/rock anos 70/80, funk old school, classic rock... tá tudo lá...basta sintonizar, e se conectar ao eterno.